A Administração de Alimentos e Drogas dos EUA (FDA, na sigla em inglês) anunciou esta sexta-feira a autorização para o primeiro teste em seres humanos com a utilização de células-tronco embrionárias.
A experiência testará células desenvolvidas pela Geron Corporation e pela Universidade da Califórnia em pacientes com lesões na medula espinhal.
O método desenvolvido pelo Geron, conhecido como GRNOPC1, contém células vivas que ajudam a restaurar fibras nervosas e mielina, uma bainha protetora dos nervos no sistema nervoso central. O reparo dos nervos poderia levar à restauração da função sensorial ou ao uso das extremidades.
O estudo vai avaliar a segurança do uso de células-tronco embrionárias em oito a dez pacientes com severas e recentes lesões de medula espinhal. A empresa concordou com a exigência da FDA de instituir intervalos de 30 dias entre os primeiros pacientes, por razão de segurança.
A experiência também medirá a eficiência da droga, que, até agora, só passou por testes em animais. A Geron está testando atualmente a terapia em animais para determinar seu potencial em doenças do sistema nervoso, como o mal de Azheimer, escleriose múltipla e a doença de Canavan, uma desordem neurológica fatal.
O ensaio foi inicialmente marcado para janeiro do ano passado, mas, antes do início do estudo, a agência adiou os trabalhos por ter descoberto cistos em alguns camundongos que receberam as células. A Geron teve que fazer outro estudo com roedores e desenvolver outras maneiras de checar a pureza das células injetadas.
As células-tronco embrionárias podem assumir o formato de qualquer outra célula do corpo humano. O objetivo da comunidade científica é usar o material no tratamento de um amplo leque de doenças, sempre o usando em substituição a tecidos lesionados.
As células, no entanto, causam controvérsia por sua criação requerer a destruição de embriões humanos, considerados seres vivos pela Igreja.
O Congresso americano baniu o uso de fundos federais para criar ou destruir embriões humanos exclusivamente para propósitos de pesquisa em 1996. Cinco anos depois, o presidente George W. Bush afrouxou levemente a restrição permitindo o uso de financiamento federal para pesquisa em alguns estudos já existentes naquela época sobre células-tronco. Esses limites foram derrubados no ano passado pelo presidente Barack Obama.
A Geron ajudou a financiar o isolamento das primeiras células-tronco embrionárias humanas, realizado pela Universidade de Wiscosin no fim dos anos 90. A corporação, portanto, mantém certos direitos de patente no uso dessas células.
Reportagem publicada no jornal O Globo em 30 de julho de 2010
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